sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Entrevista com uma aluna de psicologia da instituição UFTM

Segue a baixo a entrevista que fiz com uma aluna que cursa psicologia na UFTM. Essa entrevista foi muito importante para mim pois pude ver a visão de uma estudante que faz o curso e estuda na instituição de meu interesse.



- Qual seu nome?

Meu nome é Mariana Coelho Silva.

- Qual sua idade?

Tenho 20 anos. 

- Onde você mora?

Moro em Uberaba – MG, porque estudo na UFTM, mas sou de Taubaté – SP, então nas férias, volto para casa. 

- Quais foram suas motivações na escolha da instituição de ensino? 

Eu pretendia estudar no estado de SP, MG ou PR, justamente para não estudar muito longe da minha cidade, então fiz uma lista com universidades possíveis e fui alternando entre os dias do SISU. Na UFTM, acabou dando certo. Eu não conhecia Uberaba direito e acabei me matriculando porque passei mesmo. Acabou que estudo longe da minha cidade do mesmo jeito, mas hoje eu gosto disso. 

- Quais foram seus critérios para escolha?

Quanto ao curso, no meu Ensino Médio, sempre fui muito indecisa, já quis Publicidade e Relações Internacionais. Realizei o terceiro ano em uma sala de cursinho que era voltado para a Medicina, então tinha várias matérias voltadas para essa área e decidi prestar então para Med, mas nunca tive tanta certeza. Uma vez a cada quinze dias, tinha aula de sociologia e eu ficava morrendo de vontade de fazer Psicologia. Então, prestei para os dois cursos: prestei alguns vestibulares para Med, e pra Psico, UNESP e todas as minhas opções do SISU. Acabou que não passei em Medicina e minha escolha dependeria do SISU. 
Então fiz uma lista: dos estados nos quais eu aceitaria estudar (SP, MG e PR), coloquei as 10 melhores segundo a classificação geral e alternava entre os dias do SISU. Acabei passando em Psicologia na UFTM e na UEL. Na UFTM, passei em primeira lista e, como não sabia que a lista rodava tanto, vim pra Uberaba assim que soube, me matriculei e arrumei apartamento para morar. A lista da UEL rodou e acabei passando lá também, mas como já tinha arrumado lugar para morar em Uberaba, acabei ficando na UFTM mesmo.
Meu critério de escolha foi a questão da lista que fiz mesmo, e fui tentando em todas as universidades que queria estudar. Foi meio por tentativa, nada previamente escolhido porque eu não conhecia a UFTM, nem muitas federais. Durante o Ensino Médio, as únicas faculdades em que realmente queria estudar era a UNICAMP e a UFOP, mas ambas não tinham Psicologia. Então, fui na sorte mesmo.

- Quais os aspectos negativos da instituição? 

A UFTM é uma universidade relativamente nova. Por muito tempo foi uma faculdade de Medicina e há apenas 14 anos se tornou uma universidade federal, então há uma certa falta de estrutura. Existem 3 campus na cidade de Uberaba: o ICTE, onde ficam as engenharias e as bioexatas; o Campus 1, onde alguns cursos da saúde têm aula; e o CE, onde cursos da saúde e humanas estudam, inclusive a Psicologia. Um dos pontos negativos é que falta uma integração entre os campus. O CE e o Campus 1 ficam perto, mas o ICTE se localiza em uma parte muito distante da cidade e não tem um transporte que integre esses campus, o que existe em algumas universidades federais. Essa falta de transporte afeta muito na questão de que o único campus que tem restaurante universitário é o ICTE, sendo que os outros 2 não possuem, dificultando bastante a vida dos alunos se comparar com outras universidades. Além disso, a universidade possui algumas falhas na sua organização interna também, na questão de reitoria e tudo mais. Os cortes de verbas também vêm sido constantes, o que prejudica muito a produção da faculdade, a estrutura e o suporte aos alunos, mas acredito que isso é uma falha do governo federal e que não atinja só a UFTM. 

- Como você vê a avaliação do curso no ministério da educação e o que essa nota significa? 

A Psicologia da UFTM segundo o ENADE, do Ministério da Educação, tem conceito 5, o que se mostra muito bom. A UFTM foi a primeira universidade em que já estudei, então não tenho muita comparação pessoal com outras universidades para avaliar o curso. Mas quanto a minha experiência, acredito que a Psicologia na UFTM seja um curso bem embasado, dá suporte para muitas áreas de possíveis atuação do psicólogo, tem uma pluralidade de abordagens, apesar de ter o enfoque psicanalítico. Então, apesar de não ter muita comparação, acredito que a avaliação do ENADE corresponda com a realidade do curso, porque se mostra um curso bem embasado. É integral e tem a duração de 5 anos, portanto apresenta muitos conteúdos de diversas áreas.

- Como é o mercado de trabalho na área escolhida? 

A Psicologia possui uma ampla gama de áreas de atuação: Educacional, Organizacional e do Trabalho, Trânsito, Clínica, Social, Hospitalar, do Esporte, Neuropsicologia, Psicomotricidade, Jurídica, entre outras. Então, primeiro é bom ressaltar que a Psicologia não é só a clínica como muita gente acha e seu campo de atuação é bem amplo. Mas ainda assim, não é uma profissão bem reconhecida, porque o cuidado com a saúde mental ainda é muito negligenciado. Geralmente, a faixa salarial não é muito alta em comparação com medicina, por exemplo. Mas acredito que é uma área que está em expansão, o psicólogo está cada vez mais presente em várias áreas e acho que a tendência é crescer, uma vez que as pessoas, infelizmente, estão cada vez mais adoecidas. Eu, particularmente, gosto bastante da área Forense, um ramo do campo jurídico, que aborda mais aspectos criminais, saúde de pessoas inclusas no sistema prisional, tudo que essa área inclui. Mas cada um vai se identificando com uma área durante a graduação e moldando sua trajetória para isso.

- Em que regiões do país há carência desses profissionais? 

Não sei dizer ao certo, mas acredito que a região sudeste tenha um grande número já desses profissionais por questões de desenvolvimento. Então acredito que em regiões como Norte, Nordeste e até mesmo Centro-Oeste, haja uma carência de psicólogos, se considerarmos o tamanho territorial de tais regiões. No site do Conselho Federal de Psicologia, há dados de que, em SP, são 105.602 psicólogos, enquanto em AM, são apenas 4.736. São dados que me assustam pois acredito que seja de extrema importância a presença desses profissionais nessas regiões e a carência é grande.

- O que você falaria (dicas, orientações, conselhos) para quem quer seguir essa carreira?

Vou falar conselhos para além da carreira só, porque tem muita coisa que eu queria que alguém tivesse me falado na minha época de vestibulanda, então acho importante falar por experiência própria. Primeiro que achei muito legal a ideia da sua escola ter uma disciplina de preparação acadêmica, porque eu sinto que isso faz muita falta pra muita gente nessa época de vestibular. Por experiência própria, estudei em uma escola muito boa na minha cidade e não tenho o que reclamar em questão de conteúdo, mas nunca tive essa preparação que sua escola propôs e por isso mal conhecia sobre as universidades e sobre os cursos. Acho que muita gente poderia aproveitar melhor o ensino médio se tivesse essa preparação, porque a gente tem tanta universidade boa no país, tanto curso de tanta área, que acaba escolhendo sem saber as opções que realmente temos. Enfim, ainda sobre ENEM, SISU, essas coisas. Uma coisa que eu gostaria muito de ter ouvido na minha época de vestibular é: calma, a lista roda. Sempre tive a ideia de que precisaria passar em primeira lista, não por ego nem nada, mas por medo de ficar sem vaga em nenhuma universidade, por não saber que a lista rodava, que eu tinha oportunidades além da primeira lista. Vim pra UFTM por isso, por essa falta de informação (não me arrependo, mas gostaria de saber que tinha outras opções, porque a lista rodaria). 
Além disso, essa é uma época em que geralmente as pessoas se cobram muito pra passar e tudo mais, é compreensível porque o sistema de competição do vestibular faz a gente ficar focada só nisso. Mas nunca deixe de fazer as coisas que você gosta, de tirar um tempo pra você, mesmo que isso te custe umas horinhas de estudo: a saúde mental é prioridade. Não vale a pena estudar e só pensar em vestibular e acabar adoecendo, desenvolvendo ansiedade ou outros adoecimentos psicológicos. A vida não vai acabar caso você não passe, sempre vai ter o outro ano pra tentar de novo. Eu entrei muito nova na graduação, porque fui direto do terceiro ano, pensava muito nisso, mas aprendi que tudo bem se eu não passasse. A maioria das pessoas da minha sala na Psico não entraram direto, passaram por outras graduações, transferiram de outros cursos e outras faculdades, e tá tudo bem! Estamos todos na Psicologia igual. Tá tudo bem passar por outros cursos, não gostar e transferir, até você conseguir se encontrar. Parece meio absurdo falar isso, porque sei que a pressão para passar no vestibular e se manter no primeiro curso que você escolheu é grande, mas lembra sempre que você tá decidindo seu futuro agora e que precisa fazer isso com calma pra se manter bem e saudável. A graduação não é fácil, não é só estudar coisa boa, então o melhor que você pode fazer agora é escolher algo que você realmente goste, porque só assim para conseguir aguentar os 5 anos.
Sobre a faculdade, eu não sei se você é de Uberaba e se vai ter que mudar de cidade pra fazer faculdade, mas essa época não é nada fácil. Sobre a minha experiência: vim de uma cidade que fica há 10 horas de Uberaba, é uma cidade mais ou menos do mesmo tamanho de Uberaba, de interior e tudo mais. Mas sempre estive no mesmo círculo de pessoas, mesmo mudando de escola, sempre conhecia alguém, sempre estava perto da minha família. Aí vim pra uma cidade muito longe, voltava no máximo uma vez por mês e não conhecia absolutamente ninguém.  Não foi fácil, essa transição para a vida adulta (além da faculdade, ter que cuidar da casa, das compras, da alimentação, das contas – isso que sempre tive o privilégio em ter minha família me sustentando) é uma das épocas mais difíceis e demanda muito da gente. No primeiro ano, quis transferir para mais perto de casa, para a UFF em Volta Redonda – RJ, até visitei lá e tudo mais, mas decidi dar mais uma chance para Uberaba e tentar de novo – e deu certo. Não quero te assustar com tudo isso nem nada, é só pra ressaltar que não é fácil, exige muito da gente, tem dias que dá vontade de desistir da faculdade, voltar pra casa, mas que não é impossível, que um dia por vez, a sensação vai melhorando e tudo vai se encaixando. A gente vai entrando no ritmo da faculdade, no ritmo da vida nova e se ajeitando do jeito que é melhor pra gente.
Já sobre a Psicologia, eu, particularmente, não acho que me encaixaria em nenhum outro curso que não seja o que eu curso. Pode parecer irônico, mas eu agradeço ao destino por não ter insistido em Medicina, por ter dado uma chance pra Psicologia, porque sei que passaria anos no cursinho tentando entrar em um curso , quando entrasse, não iria gostar. Eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja a Psicologia. Estou no sexto período e cada semestre que passa eu me apaixono mais pela profissão. É lindo você ver a atuação, o quanto você pode ajudar uma pessoa que tá sofrendo. A saúde mental é um aspecto tão importante e que a gente negligencia tanto, que acaba não vendo o tanto de gente que tem adoecida. Desde o início, até pensei em transferir de faculdade (por conta da distância apenas), mas nunca de curso porque, desde que entrei, tive a certeza de que era isso que eu quero. Então, um conselho que eu tenho para quem quer seguir a profissão é: só vai, porque é linda. É muito lindo aprender a analisar as situações, a ajudar o outro, a desenvolver a escuta. 
E um conselho que eu tenho não só para quem quer seguir a profissão, mas principalmente pra quem quer Psicologia é: cuide da saúde mental. Pode parecer clichê, mas são coisas tão simples para cuidar de si mesmo, tirar um tempo para fazer o que você gosta, pra respirar, fazer exercício, fazer terapia, não se sobrecarregar. Uma coisa que eu aprendi com o tempo foi que, ou tiro um tempo pra me cuidar, ou uma hora eu me sobrecarrego total, adoeço e não vou conseguir fazer mais nada. Principalmente para quem quer Psicologia, cuidar da saúde mental é extremamente importante. Pra muita gente é irônico como o estudante e o profissional de Psicologia é adoecido. Mas vale lembrar que na graduação a gente aprende a cuidar do outro, porque você vai ter a capacidade de analisar o problema do outro, mas o seu próprio, não, porque você tá mergulhado nele. E por isso é tão importante cuidar da saúde mental, fazer terapia, para não passar os seus problemas pessoas, para o outro ali que está precisando da sua ajuda. Na Psicologia, é muito comum desenvolvermos algum transtorno se não cuidarmos de nós mesmos, porque passamos a maior parte de nossos dias, por pelo menos 5 anos, refletindo sobre a saúde mental, as relações, os problemas. Então, cuide sempre de você, da sua saúde mental, entender que você não precisa ser boa o tempo todo, que tudo bem errar, que tudo bem tirar um tempo pra fazer o que você gosta, porque nenhuma prova vale o seu sofrimento. 



Caroline Canassa N°08 3ªC

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